2 Crônicas 35.20-27
Essa história é muito curiosa. Os papéis
parecem invertidos!
Pano de fundo: data: 609 aC, 4 anos antes
de Nabucodonosor iniciar a invasão de Judá e 23 anos antes da
destruição final de Jerusalém (586).
Assíria: poder dominante. Babilônia:
crescendo, ameaçando a Assíria. Há indícios de que Josias teria sido
aliado da Babilônia. Os assírios haviam estabelecendo a capital em
Carquemis, um ano antes. Os babilônios travavam guerra contra Assíria em
Carquemis e Neco, faraó do Egito, iria se juntar à Assíria, contra a Babilônia.
Foi aí que Josias resolveu interferir, impedindo Neco de chegar até Carquemis.
Os personagens:
Josias (2Cr 34.1-2): um dos melhores reis de Judá. Fez uma reforma religiosa/espiritual
profunda: purificou o templo, etc.
Neco:
rei pagão, do Egito.
Josias resolve impedir a campanha militar de
Neco. Neco manda avisar que Josias não se metesse, afirmando que estava nessa
campanha por ordem do próprio Deus. E com um detalhe: Deus havia mandado que
ele fosse logo. Adverte então a Josias para não se opor a Deus, sob o risco de
ser destruído. Neco chega ao ponto de afirmar que Deus estava com ele! Incrível:
parece um homem de Deus falando a um pagão! Era exatamente o contrário!
Josias insiste. Entra na guerra disfarçado e é
ferido por uma flecha, retirado da batalha e levado para Jerusalém, onde morre
aos 39 anos (ou chegou morto). É enterrado sob grande pranto e lamentação. Era
um rei querido e havia feito muitas coisas boas (2Cr 35.26). Foi um homem fiel
a Deus o tempo todo.
À primeira vista, a história é esquisita,
desanimadora, que mais confunde do que esclarece. Não é assim: temos
aqui várias lições valiosas.
1) Deus se expressa não apenas através de crentes, mas também de não crentes.
Essa observação não inclui revelação
infalível, que é somente nas Escrituras. Aliás, mesmo os crentes
não estão sujeitos a essas revelações hoje. E nem se refere ao ensino de
doutrinas bíblicas, apenas o crente compreende a Palavra de Deus. Refiro-me à
influência de Deus sobre os homens em geral para dizerem ou fazerem algo
que Ele queira numa determinada situação.
Deus falou a todo o reino da Babilônia através
de Nabucodonosor: Dn 4.1-3.
Deus falou através do incrédulo sumo-sacerdote
Caifás sobre a morte de Jesus: Jo 11.51.
Deus usou Ciro para mandar os judeus de volta
a Israel: 2Cr 36.22-23.
Até mesmo através de um animal Deus já se
expressou uma vez: Nm 22.28-31.
Cristo falou literalmente quando disse que as
pedras clamariam se os discípulos calassem: Lc 19.39-40.
Em suma: Deus pode se utilizar de qualquer
coisa que Ele criou para se expressar.
Não há motivos para Deus ter cessado de
agir assim. Todos os homens são servos dele. Tudo o que existe está sob o
controle de Deus. E ninguém pode resistir, conscientemente ou não, ao que
Deus manda fazer. Nada impede que alguma pessoa, mesmo não crente, fale algo
que Deus quis que falasse. Ou de um animal fazer o que Deus quer que faça.
Evidentemente não vamos achar que todo mundo
está falando o que Deus expressamente ordenou. Mas o outro extremo é limitar a
Deus, achando que os crentes são a única e exclusiva fonte de Deus se
manifestar e se expressar. Isso nos leva à segunda lição:
2) Por sermos crentes, filhos de Deus, não podemos nos dar ao luxo de desprezar sugestões, conselhos e até repreensões de pessoas não crentes.
Abraão,
o pai da fé, foi repreendido pelo Faraó e por Abimeleque: Gn 12.17-20; Gn
20.3-7
Davi
foi aconselhado por Abigail para não atacar Nabal.
O
sábio dá ouvidos a conselhos: Pr 12.15; Pr 15.22. Pr
24.6 (aqui conselhos
militares de estratégias).
Existem pessoas incrédulas com certa sabedoria
de Deus. O próprio fato do homem trazer a imagem e semelhança de Deus,
indica que alguma dose de sabedoria divina pode ser transmitida aos
homens, independente da fé. O conteúdo geral da filosofia de quem não tem Deus,
evidentemente é errada e anti-Deus. Mas não significa que é impossível pessoas
assim falarem coisas boas isoladamente. Devemos ter humildade de ouvir
bons conselhos ou repreensões de não crentes. Se não se chocam com o princípio
divino e têm bom senso, podem ser bons.
3) O fato de termos vida de fidelidade, não nos assegura que sabemos melhor do que outros a vontade de Deus específica para certo assunto.
As doutrinas e profecias que Deus quis
revelar, estão todas na Bíblia. Ali podemos encontrar muitos planos e padrões
de Deus e a Sua vontade com relação a muitas coisas em geral. Mas não
encontramos o que Deus deseja para assuntos particulares. Josias conhecia a Lei
de Moisés, que indicava a vontade de Deus para Israel. Mas na Lei não havia
cada detalhe das atividades políticas e militares de Israel. Deus bem poderia
ter se revelado a Josias diretamente ou através de profetas.
Mas por algum motivo que desconhecemos, não o
fez. Escolheu se revelar logo a um rei pagão, inimigo de Israel! Também não
sabemos porquê. O fato é que assim quis.
É difícil avaliar exatamente o que se passou
com Josias para ter agido daquela forma. Considerando a vida fiel dele,
é razoável assumir que não tinha revelação de Deus sobre o assunto, ou
seja, não pecou afrontosamente contra Deus ao ir para a batalha.
É provável que Josias tenha cometido dois
erros:
1) Arrogância: Se Deus não revelou o
assunto a mim, que sou fiel a Deus, quanto mais a um pagão e idólatra desse. É
evidente que está blefando.
2) Imprudência. Pelo visto, não
consultou a Deus diretamente ou através de algum profeta, simplesmente estava
obcecado com a idéia de impedir Neco e partiu para a luta.
Nós: cuidado com arrogância ao nos compararmos
com não crentes. Como se soubéssemos tudo de Deus, e eles, nada. E cuidado com
a imprudência. Se alguém nos adverte com palavras que não comprometem
princípios divinos e têm bom senso humano, pode ser Deus querendo nos dizer
algo.
Precisamos no mínimo considerar, refletir,
pedir outras opiniões.
4) O fato de sermos crentes fiéis não nos livra de sofrermos as consequências quando insistimos em ir contra a vontade de Deus.
Fazia parte do plano de Deus que Neco fosse
ajudar a Assíria contra os babilônios. Josias tentou interferir e encontrou a
morte. Não sabemos exatamente até que ponto Josias tinha condições de checar a
veracidade das palavras de Neco. Seja como for, nada anula o fato de que o
rei quis interferir nos planos de Deus.
Alerta para nós: Ninguém pode se intrometer no
que Deus tem a fazer: Jó 9.12; Isaías 14.27. Se tivermos a infelicidade
de ficarmos à frente de Deus, como obstáculos ao que Ele quer fazer, com
certeza sofreremos as consequências.
Talvez você pense:
Coitado de Neco. Será que valeu a pena ter
sido tão fiel? Será que vale a pena eu dar duro para ser fiel, trabalhando a
vida toda para Deus, se por causa de um único gesto de arrogância, ou
imprudência, ou o que for, ter final trágico?
Respondo com a quinta lição:
5) Vale a pena ser fiel qualquer que seja o nosso futuro aqui, qualquer que seja o final do nosso ministério.
A obra que construímos aqui fica, mesmo depois
de partirmos. E serve para que os outros prossigam. O importante é que a obra
seja para a glória de Deus. Veja como Paulo dá importância uma sequência
de ministérios em que Deus é o centro: 1Coríntios 3.5-8.
O povo lamentou muito a Josias. Por que? Pela
vida dele. Não por causa ou pela maneira como morreu. Será bom deixarmos rastro
de vida tal que pessoas lamentem a nossa partida com saudade, sentindo falta do
bom trabalho que fazíamos ao reino de Deus.
6) Deus é tão maravilhoso que até na tragédia abençoa aos que são fiéis.
Josias morreu sem passar pelo profundo
desgosto de ver o reino sendo destruído aos poucos pela Babilônia, iniciando em
605 a.C., até culminar com a destruição total de Jerusalém em 587, com grande
morticínio. A profetiza Hulda havia predito que Josias morreria em paz, como
prêmio da fidelidade dele (2Crônicas 34.26-28). Morrer em paz aqui
significa sem que o reino de Judá estivesse envolvido em guerra. Isso foi
um prêmio de Deus ao fiel rei Josias.
Nenhum de nós deseja cometer o erro de Josias.
Ninguém quer interferir nos planos de Deus. Mas se isso acontecer e formos
apanhados pelas consequências, podemos ter certeza de que Deus continua conosco
e vai nos fazer crescer com isso. Nada nos separa do amor dEle (Rm
8.38-39) e tudo concorre para o nosso bem (Romanos 8.28). E se a
consequência for trágica ao ponto de nos levar a vida, estaremos no céu.
Encerro com esse pensamento:
Nosso Deus é tão benigno, que nos leva para
mais perto de Si mesmo quando precisamos ser punidos ou disciplinados, ou
sofrer as consequências de um erro. Em todas as situações, sem exceção, Ele nos
trata com amor. E no céu vai nos recompensar por tudo o que fizemos. Isso é maravilhoso! Amém!
Publicado pelo Ministério Falando de Cristo. Repostado pelo Eterno Inconformado.
Maravilha de lição me abriu a mente e tive uma resposta boa doque estive lendo Deus abençoe
ResponderExcluirGlória a Deus! Ficamos felizes em saber que o texto te ajudou a compreender mais a respeito de Josias e Neco. Amém! Que o Senhor te abençoe também. E obrigado pela visita e pelo comentário. =]
ExcluirNossa como o Espírito Testifica, estudando aqui tive muitas linhas de raciocínios do que foi relatado aqui. Uma bênção para abrir o entendimento.
ResponderExcluirLouvado seja o Senhor por isso! Ficamos felizes em saber que o Senhor usou este texto para abrir teu entendimento. No site onde esse texto foi publicado inicialmente tem muitos materiais bem edificantes também. Deus te abençoe e obrigado pela visita!
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