#284. Neemias: A Reconstrução

Mais do que reconstruir muros, uma reforma efetiva acontece de dentro para fora. Líderes segundo o coração de Deus não veem um trabalho bem feito apenas por conta de uma beleza ostensiva, mas por conta de um serviço sincero a Deus por conta dos seus liderados.

O livro de Neemias parece nos apresentar a consolidação de um processo de reconstrução da identidade de povo de Deus após sair do exílio, conforme iniciado no primeiro livro das Crônicas. Neemias tem uma narrativa similar e bem paralela à do livro de Esdras, com a diferença de que enquanto o sacerdote Esdras relata o processo de reconstrução do Templo, Neemias relata o processo de reconstrução dos muros de Jerusalém – muros esses que a delimitavam e serviam como um constituinte identitário dos israelitas.

Ao saber do triste estado de Jerusalém, Neemias não foi apático. Em vez disso, ele se sentiu angustiado e clamou pelo seu povo, ensinando-nos o valor da intercessão e do serviço. Neemias sabia que ele não deveria ficar parado, mas agir – e mais importante do que agir, era agir mediante as orientações do Senhor, o que Ele prontamente fez mediante um relacionamento de diálogo constante com Deus –.

Assim como Esdras relatou os ataques dos inimigos durante a reconstrução do Templo, Neemias traz os registros dos feitos de alguns opositores – que apesar das investidas para parar a reconstrução, falharam –. Essas investidas dos oponentes de Neemias (a saber: Tobias, Sambalate e Gesém) fracassaram porque Deus estava orientando e protegendo Neemias, mas como é interessante conhecer as armas do inimigo, perceba que Neemias teve que estar vigiando constantemente, pois como registrado no capítulo 6, seus adversários fingiram ser adoradores do Deus de Israel e com ardis intentaram incitar Neemias a fazer algo que não era de sua competência. Neemias sabia o que estava fazendo e a quem ele servia.

As advertências trazidas no livro de Neemias continuam quando percebemos que o sacerdote Eliasibe levantou uma porta a qual não há indicativo de que ela tivesse ferrolhos e fechaduras como aquelas levantadas por outros trabalhadores da reconstrução, conforme apontado no capítulo 3. Esse mesmo Eliasibe ainda se aparentou com Tobias e Sambalate (veja os versos 4 e 28 do capítulo 13) enquanto Neemias passou um tempo fora de Jerusalém (já ouviu que quando os gatos saem, os ratos fazem a festa?).

O capítulo 9 parece um bom resumo da história de Israel de Gênesis até Esdras. O contexto dos capítulos anteriores e posteriores a esse nos ensinam que devemos nos consertarmos de verdade ao conhecermos a revelação das Escrituras, indicando mais uma vez que além de confessar o pecado em arrependimento, é importante deixá-lo, conforme mencionado em Provérbios 28:13.

“E leram no livro, na lei de Deus; e declarando, e explicando o sentido, faziam que, lendo, se entendesse.” – Neemias 8:8

O problema aqui é que essa confissão e obediência pareciam mecânicos, nos dando a ideia de que os israelitas só cumpriam a Lei quando um líder – neste caso, Neemias – estava presente entre eles. O capítulo 13, por exemplo, trata dos diversos abusos exercidos pelo povo enquanto Neemias, o governador, se fez ausente por um tempo em Jerusalém, e ele, como um bom líder, aplicou as devidas correções: Eliasibe, como um sacerdote, não foi um bom exemplo para o povo ao se aparentar com os inimigos de Neemias; o povo não estava sustentando os levitas, como deveria acontecer; o sábado estava sendo profanado e alguns judeus estavam se casando com mulheres estrangeiras, da mesma forma que havia ocorrido no passado.

Diante disso, Neemias não fechou os olhos nem foi omisso: ele fez o que precisava ser feito sem temer os ataques intentados contra ele, e ao estar em diálogo constante com Deus, o Senhor da obra, Neemias nos ensinou como ser um líder exemplar que, além de reconstruir muros, fomenta uma reforma dentro de nossos corações de modo que sirvamos ao Senhor em espírito e em verdade apenas pela motivação de honrá-Lo no que quer que venhamos a fazer e nunca, nunca mesmo, deixemos de servi-Lo por serviço algum ou por oposição alguma.